23 de set. de 2010

A idade e a mudança - Lya Luft

A IDADE E A MUDANÇA

Mês passado  participei de um evento sobre as mulheres no mundo  contemporâneo.
  
  Era um bate-papo com uma platéia composta de umas  250 mulheres de todas as raças, credos e idades. E por falar  em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e,  como não me envergonho dela, respondi.
  
  Foi um momento inesquecível...   A platéia  inteira fez um 'oooohh' de descrédito.
  
  Aí  fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora  exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma  reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a  idade que tenho? Onde é que nós estamos?'
 
Onde, não sei, mas  estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude  eterna'. Estão todos em busca da reversão do  tempo.
  
    Acho ótimo,  porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas  cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.
  
  Há um outro truque que faz com  que continuemos a ser chamadas de senhoritas, mesmo em idade avançada.  A fonte da juventude  chama-se ‘mudança’.
 
De  fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar  cadáver antes da hora.
  
  A única maneira de ser idoso sem  envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter  disposição para guinadas.
  
  Eu pretendo morrer jovem aos 120  anos.
  
  Mudança, o que vem a ser tal  coisa?
  
  Minha mãe recentemente mudou do  apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem  menorzinho.
  
  Teve que vender e doar mais da  metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo  tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais  compacta e simplificada, rejuvenesceu.
  
  Uma  amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o  mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.
  
  Rejuvenesceu.
 
Uma  outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por  um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia  sempre que tem sol.
  
  Rejuvenesceu.
 
Toda  mudança cobra um alto preço emocional.
  
  Antes de se tomar uma decisão  difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os  questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza.
  
  Mas  então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica  escancarada na face.
 
Mudanças fazem milagres por  nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude  eterna.
  
  Um olhar opaco pode ser puxado e  repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que  continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu  brilho.
  
  Quem dá brilho ao olhar é a vida  que a gente optou por levar.
 
Olhe-se no  espelho...

Lya  Luft

Nenhum comentário:

Postar um comentário

deixe seu comentário

Novos Horários de Aulas de Cerâmica

Ainda restam alguns lugares de aula nos seguintes dias